O Dia da Terra, celebrado em 22 de abril, nasceu em 1970 como um movimento de conscientização ambiental. Mais de cinquenta anos depois, ele se transformou em um grito de socorro global. Em 2023, o planeta viveu seu ano mais quente já registrado, com temperaturas médias 1,48°C acima dos níveis pré-industriais. E não se trata apenas de um número abstrato: este aquecimento se traduziu em secas severas, enchentes letais, colheitas perdidas, milhões de pessoas deslocadas e uma biodiversidade em colapso.
De acordo com a ONU, estamos perigosamente próximos de ultrapassar pontos de não retorno ecológico — como o derretimento irreversível das geleiras e a savanização da Amazônia. Ao mesmo tempo, quase um milhão de espécies correm risco de extinção, segundo o Painel Intergovernamental sobre Biodiversidade (IPBES). A humanidade, que tanto transformou a Terra, agora é confrontada com a urgência de transformar a si mesma.
Os Objetivos da ONU
Frente a esse cenário, os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela ONU oferecem um plano claro: reduzir emissões de carbono em 45% até 2030, garantir energia limpa e acessível, proteger 30% dos oceanos e ecossistemas terrestres e eliminar o desmatamento ilegal. A última Conferência do Clima da ONU, a COP28, marcou compromissos importantes, como a meta global de triplicar a capacidade de energia renovável até o fim da década. Ainda assim, a distância entre promessas diplomáticas e ações práticas continua preocupante.
Dados do Fundo Monetário Internacional mostram que os subsídios a combustíveis fósseis ainda somam mais de 7 trilhões de dólares por ano — mais do que os investimentos combinados em soluções climáticas. E segundo a Climate Action Tracker, com as políticas atuais, o mundo caminha para um aumento médio de temperatura entre 2,4°C e 2,8°C até 2100. Um cenário catastrófico.
A inteligência artificial: Aliada ou vilã?
Neste tabuleiro instável, a inteligência artificial surge como uma das peças mais controversas. De um lado, ela já está sendo usada para mapear o desmatamento em tempo real, prever eventos climáticos extremos, otimizar sistemas de transporte e energia, e reduzir o desperdício em cadeias produtivas. Iniciativas como o MapBiomas no Brasil e o uso de IA em modelagens meteorológicas da NASA mostram o potencial transformador da tecnologia.
Por outro lado, os custos ambientais da IA são frequentemente ignorados. Treinar um único modelo de linguagem pode emitir mais de 280 toneladas de CO₂ — o equivalente a mais de 100 carros rodando por ano. Os data centers consomem quantidades imensas de energia e água, muitas vezes em regiões já ameaçadas por escassez hídrica. E ainda há um uso crescente de IA para disseminação de desinformação, manipulação de narrativas sobre mudanças climáticas e até mesmo para criar campanhas de greenwashing em larga escala.
A pergunta que fica é: a inteligência artificial será uma aliada na regeneração da Terra ou um acelerador do colapso? A resposta depende menos da tecnologia em si e mais de quem a programa, financia e regula.
A timeline está correndo e precisamos mudar esse roteiro
Em meio a essas grandes forças — políticas, econômicas e tecnológicas — ainda existe um fator decisivo: a sociedade. Cada governo que legisla, cada empresa que produz, cada cidadão que consome está, de algum modo, decidindo o futuro do planeta. E esse futuro pode ser diferente.
O Dia da Terra, mais do que uma data comemorativa, precisa ser um ponto de virada na nossa consciência coletiva. Não se trata mais de “salvar o planeta” — a Terra continuará girando. Trata-se de garantir que a vida, a diversidade, a beleza e a dignidade humana possam continuar existindo aqui.
A Movy acredita que grandes transformações começam com uma história bem contada. Histórias que não escondem os fatos, mas também não abrem mão da esperança. Porque informar é essencial — mas emocionar é o que move.
Ainda temos tempo. Mas ele está passando rápido demais para continuarmos inertes.